19/06/2018 - "Se soubéssemos a importância da Santa Missa, não faltaríamos a nenhuma"

NA MISSA, REVIVEMOS EM NÓS O MISTÉRIO PASCAL DE JESUS

 

“A Liturgia é o cume para o qual tende a ação da Igreja, e ao mesmo tempo, é a fonte donde emana toda a sua força” (SC 10).

 

            A Liturgia Eucarística é o ápice, o cume, o momento máximo de toda a nossa vida de fé. Toda ação que fazemos deve nos conduzir para a Eucaristia, da qual haurimos toda a força para continuar a nossa missão. Qualquer ação catequética, pastoral, evangelizadora que não desperte a pessoa para a Liturgia Eucarística, é, sem dúvida, uma ação falha: “Pois os trabalhos apostólicos se ordenam a isso: que todos, feitos pela fé e pelo Batismo filhos de Deus, juntos se reúnam, louvando a Deus no meio da Igreja, participem do sacrifício e comam a ceia do Senhor” (SC 10). Não tem sentido, ser Católico e não valorizar a Missa, como centro da vida de fé. A Eucaristia é a razão de ser da Igreja e do sacerdócio ministerial: “Toda a celebração litúrgica, como obra de Cristo sacerdote, e de Seu Corpo que é a Igreja, é uma ação sagrada por excelência, cuja eficácia, no mesmo título e grau, não é igualada por nenhuma outra ação da Igreja” (SC 7).

            Nada é mais angustiante do que ver a grande maioria dos cristãos católicos continuar ignorando o real sentido da Missa como memória da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus para a salvação de toda a humanidade.

            É lamentável ouvir um fiel saindo da igreja dizer que não foi tocado emocionalmente pela pregação do sacerdote, ou que os cânticos não eram animados, que a equipe de liturgia não estava bem preparada, etc... É verdade que a pregação seja importante, pois deve questionar a vida da comunidade à luz da Palavra, que os cânticos devem ajudar a participação e que a equipe deve estar bem preparada, mas não é o essencial na Liturgia.

            Quando saio de casa para ir à igreja participar da Missa, minha primeira preocupação é comigo mesmo, me preparando para abrir o meu coração ao processo pascal (morrer para o pecado e renascer para a vida) que acontecerá através da ação redentora de Jesus. Sem esta predisposição, dificilmente poderei reviver em mim o mistério que será celebrado. Eu disse: reviver em mim. Aqui está a chave que abre os horizontes da compreensão e vivência da Liturgia Eucarística. Na Liturgia Eucarística “se exerce a obra de nossa Redenção” (SC 2).

            Infelizmente, ao longo da história da Igreja, ofuscou-se este sentido da Liturgia Eucarística, com  múltiplas intenções. Assim, muitos vão à igreja oferecer a Missa pela alma de (...), ou  para um aniversariante, ou para um doente, ou pior ainda, na intenção dos Santos, ou da Virgem Maria, ou do Sagrado Coração de Jesus, ou do Espírito Santo.

            O único objetivo da Missa é celebrar o mistério redentor de Jesus, para a salvação da humanidade. Associamos a este mistério redentor, a Virgem Maria, os Santos, todos os falecidos e todos os membros vivos da Igreja (como parte integrante das Orações Eucarísticas). A  ação redentora é ação da Trindade:  “O Pai, por Cristo e no Espírito, santifica a Igreja e, por ela, o mundo; mundo e Igreja por sua vez, por Cristo e no Espírito, dão glória ao Pai” (DP 9l7).

            O essencial na Liturgia Eucarística é participar do mistério pascal de Jesus, morrendo com Ele para o pecado e ressurgindo com Ele para a vida nova dos verdadeiros filhos e filhas de Deus.

            Vamos, portanto, entrar na dinâmica da Missa, procurando entender o seu real sentido, e os passos concretos que devemos dar durante a celebração ritual.

O que é a Missa?

            Se fizermos uma pesquisa perguntando: o que é a Missa para você? Certamente obteremos muitas respostas, expressando alguns aspectos do seu conteúdo, mas que não abrangem a sua totalidade.

            A Missa é o memorial da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus: “Fazei isto em minha memória” (Lc 22,l9). Memorial não é representação, nem repetição, mas atualização, isto é, fazer acontecer no momento presente, aquela mesma ação da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus. É o mesmo sacrifício de Jesus vivenciado e experimentado aqui e agora, pela assembléia celebrante.

 

Ritos Iniciais.

            Iniciamos a celebração com um canto animado que visa criar laços de fraternidade entre os fiéis despertando-os para a importância da celebração como: “Encontro com Deus e os irmãos;... festa de comunhão eclesial, na qual o Senhor Jesus, por seu mistério pascal, assume e liberta o Povo de Deus e, por ele, toda a humanidade, cuja história é convertida em história salvífica, para reconciliar os homens entre si e com Deus” (DP 918). Em seguida, traçamos sobre nós o sinal da cruz, invocando a Santíssima Trindade. Este gesto, não pode ser um gesto como outro qualquer. Quando o fazemos, devemos vivenciar o seu significado: o sinal da cruz é o sinal dos cristãos. Foi o primeiro gesto feito no dia do nosso batismo, em que o sacerdote e os pais e padrinhos traçaram em nossa fronte o sinal da cruz, lembrando que Jesus deu sua vida na cruz para nos salvar e redimir. Pelo batismo nos tornamos templos da Santíssima Trindade: Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo habita em nós. Pertencemos à Trindade e portanto, tudo o que fizermos, devemos fazê-lo em nome da Trindade: “Tudo o que fizerdes por palavras ou por obras, fazei em nome do Senhor Jesus, dando graças a Deus Pai, por Ele” (Fl 3.17). Sem este real sentido, o sinal da cruz se torna um gesto qualquer.

            Em seguida o presidente acolhe a assembléia com uma saudação paulina: “A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo, estejam convosco” (2Cor l3,l3), ou outra fórmula semelhante, suscitando a resposta da assembléia: “Bendito seja Deus que nos reuniu no amor de Cristo”. Bendizemos a Deus pela graça de estarmos congregados, reunidos para celebrar o amor de Jesus que continua dando a sua vida por nós. Esta resposta não pode ser evasiva, sem sentido, mas que brote do coração, e expresse a alegria e a gratidão a Deus, por estarmos reunidos como irmãos e irmãs que farão a forte experiência libertadora que nos capacitará ainda mais para amar a Deus e ao próximo.

            Esta disponibilidade para o amor a Deus e ao próximo, nos leva ao ato penitencial, momento em que abrimos o coração para Deus, reconhecendnossa condição humana, criatural, frágil e deficiente, sempre necessitada da misericórdia. Reconhecemos então as nossas limitações e nossos pecados cometidos contra o amor a Deus e aos irmãos e irmãs, e arrependidos e confiantes, suplicamos o perdão. Fazemos então, a forte experiência do amor misericordioso de Deus que nos acolhe e nos perdoa, por Jesus Cristo, o Senhor.

            Lembro, neste momento, a experiência de Maria. Depois da anunciação, tendo ela dado o seu sim a Deus e começado a gerar em seu ventre o Messias Salvador, correu ao encontro de sua prima Isabel, a única que poderia entender a sua experiência, porque também Isabel experimentava em si a ação de Deus, gestando em seu ventre o Precursor. Tendo sido acolhida por Isabel que imediatamente reconhece o que nela se realiza, Maria proclamou o Magníficat, exaltando a bondade e a misericórdia de Deus, por ter olhado para sua pequenez e feito nela maravilhas. Não fazemos também esta experiência de sermos olhados, apesar das nossas limitações e sermos acolhidos pelo Pai que realiza em nós e através de nós maravilhas? Esta experiência do amor misericordioso de Deus, nos faz exultar de alegria, como Maria, e então cantamos com toda a força da nossa alma, bendizendo e glorificando ao Deus Trindade, pela sua ação libertadora.

            Fechamos os ritos iniciais com a Oração Coleta. Neste momento, o presidente convida a assembléia para rezar. Cada um, no íntimo do seu coração expressa os seus sentimentos a Deus. Depois, o presidente como que junta os sentimentos da assembléia, e numa oração eleva-os ao Pai, por Cristo, no Espírito Santo.

 

Liturgia da Palavra

            Fizemos a experiência libertadora do amor misericordioso de Deus e agora estamos aptos para ouvir a sua Palavra. Não é uma palavra qualquer. É a Palavra de Deus. Quando alguém importante nos fala, prestamos muita atenção. Quando Deus nos fala, além da atenção redobrada, precisamos ouvir com agrado, com prazer: “A grande multidão o ouvia com agrado” (Mc l2,37). Ouvir com agrado, com prazer,  implica o sentimento, o coração. É estar disposto a  compreender e aceitar.

            A Palavra de Deus se dirige a cada um em particular, que deve ouvir, compreender o que Deus está propondo, confrontar sua vida e aceitar o desafio da conversão, isto é, mudar de mentalidade, ou seja, estar disposto a deixar sua maneira de ser, de  pensar, e de agir, para conformar sua vida com a vontade de Deus, passando a ser, a pensar e a agir segundo os critérios de Jesus, tendo em vista a edificação do Reino em si mesmo, na sua família, na comunidade e em toda a sociedade.

            A homilia proferida pelo presidente da celebração tem como objetivo explicar a Palavra proclamada, confrontando-a com a vida da comunidade, questionando tudo aquilo que prejudica a edificação do Reino e mostrando pistas de ação, mas de forma geral. Daí a importância de cada um pessoalmente acolher para si a Palavra, deixando-se modelar por ela, segundo as suas necessidades de mudança de vida ou de reavivamento na caminhada da fé, predispondo-se para anunciá-la. Quem escutou com agrado, acolheu e assimilou a Palavra, necessariamente transmitirá aos outros a própria experiência vivenciada.

            Se nos convertemos pela Palavra, assumindo o compromisso de vida nova, podemos comprometer-nos diante da assembléia, reafirmando o desejo de viver coerentemente a nossa fé batismal. Renovamos, então, as promessas do nosso batismo, professando o Credo que é a síntese da fé que recebemos no batismo e professamos na Igreja. Comprometidos com a Igreja, e exercendo de modo relevante  o sacerdócio batismal, rezamos (Oração dos fiéis) pedindo a Deus que a salvação anunciada através da sua Palavra se torne realidade em toda a Igreja, no mundo, entre os que sofrem e também pedimos pelas necessidades da nossa comunidade ou assembléia celebrante.

            Até aqui, o centro da celebração era a estante, na qual se proclamou a Palavra de Deus.

 

Liturgia Eucarística

            Começamos a Liturgia Eucarística, apresentando a Deus os dons do pão e do vinho que serão transformados no Corpo e no Sangue de Jesus. Com estes dons, apresentamos também a nossa vida para ser assimilada no mistério redentor de Jesus.

            O centro agora é o altar, no qual acontecerá o sacrifício redentor de Jesus.

            Após a oração das oferendas, inicia-se o Prefácio que introduz a Oração Eucarística, com um breve diálogo, mas cheio de significado. A proposta do presidente: “O Senhor esteja convosco” , suscita a resposta: “Ele está no meio de nós”. Esta resposta deve ser sincera, fruto da experiência da presença do Senhor na Assembléia: “Pois onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, ali estou eu no meio deles” (Mt 18,20). “Corações ao alto” diz o presidente, e a assembléia responde: “O nosso coração está em Deus”. Será que de fato o nosso coração está em Deus? Não estará ele vagando com os nossos  pensamentos nas coisas que deixamos  para trás ou que planejamos para depois da Missa? Não estará tomado pelos problemas e preocupações que insistimos em carregar conosco? Estar em Deus significa abandonar-se inteiramente em suas mãos, aconchegar-se em seu seio. Não desejar outra coisa senão ser assimilado no seu amor.

            Se o Senhor está conosco e o nosso coração está nele, podemos “Dar graças ao Senhor nosso Deus”, porque “É nosso dever e nossa salvação”. Proclama-se, então, louvor a Deus, por todas as suas maravilhas, principalmente pela Salvação realizada através de Jesus Cristo, que se torna presente na Ação Eucarística.

No fim do Prefácio, o presidente da celebração convoca a assembléia a unir a sua voz à voz dos anjos e dos Santos, para contar a Deus três vezes Santo. É um grande momento da celebração, pois o céu a e terra se unem no louvor a Deus, reconhecendo sua grandeza e sua santidade. Nós cremos na comunhão dos Santos. A Igreja Triunfante, isto é, aqueles que já nos precederam na eternidade, estão unidos a nós e intercedem constantemente por nós, para que, vivenciando o mistério redentor de Jesus como eles vivenciaram, possamos chegar à plenitude da vida como eles chegaram. Somos enriquecidos com a energia celeste para termos a capacidade de mergulhar no mistério pascal de Jesus.

A Oração Eucarística é o cume de toda a celebração. Além da ação de graças, visa a nossa santificação: “Da Liturgia, portanto, mas da Eucaristia principalmente, como de uma fonte, se deriva a graça para nós e com maior eficácia é obtida aquela santificação dos homens em Cristo e a glorificação de Deus, para a qual, como a seu fim, tendem todas as demais obras da Igreja” (SC 10), levando-nos a uma união perfeita com Cristo, revivendo em nós o seu mistério pascal.

A consagração (narração da Instituição Eucarística), exige um religioso silêncio e  absoluta concentração, porque é o momento sacrifical. Faz-se a memória da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus. “Tomai, todos, e comei: isto é o meu Corpo que será entregue por vós”. “Tomai, todos e bebei: este é o cálice do meu Sangue, o Sangue da nova e eterna Aliança, que será derramado por vós e por todos. Fazei isto em memória de mim”. É a mesma ação de Jesus acontecendo aqui e agora, no hoje da nossa vida. E nós somos convocados a mergulhar neste mistério, tendo a coragem de subir ao Calvário e nos deixar crucificar com Cristo: “Fui crucificado junto com Cristo” (Gl 2,19), morrendo com Ele para o pecado, nos deixando banhar no seu Sangue regenerador, ressurgindo com Ele para a vida nova: “Vencendo a corrupção do pecado, realizou uma nova criação. E, destruindo a morte, garantiu-nos a vida em plenitude” (Prefácio da Páscoa, IV).                 

Seria um grave erro executar fundo musical neste momento, porque é hora do sacrifício: “Corpo entregue, Sangue derramado”, hora de esvaziamento e despojamento para todos. Neste momento aconteceria os milagres, as libertações, as curas, se  nos deixássemos  assimilar por Cristo em sua Paixão e Morte. Para quê Cristo deu a sua vida? Não foi para nos salvar, redimir, curar, libertar e para que tivéssemos a “vida em abundância”? (Cf. Jo 10,10). A emoção deve brotar da participação no mistério redentor de Jesus e não por causa de músicas melosas que às vezes nos remetem para outros momentos da nossa vida, nos tirando a possibilidade do mergulho no mistério da salvação. Este mergulho só é possível, se de fato abrimos o nosso coração à experiência do amor misericordioso de Deus, no ato penitencial, e se ouvimos a Palavra com agrado, nos deixando transformar  por ela.

            Crucificados com Cristo para o pecado, banhados no seu Sangue regenerador e ressuscitados com Ele para a vida nova dos verdadeiros filhos e filhas de Deus, podemos sem nenhum medo, sem nenhum temor, suplicar ao Senhor que Ele venha. Não é isto que pedimos quando aclamamos: “Anunciamos Senhor, a vossa morte e proclamamos a vossa ressurreição. Vinde Senhor Jesus”? Vinde onde? Jesus já está presente na Assembléia reunida, na Palavra proclamada, no presidente da celebração que age “na Pessoa de Cristo” e de forma viva e real na Eucaristia. Por que então suplicamos: “Vinde Senhor Jesus”? Evocamos a Parusia, isto é, a segunda vinda de Cristo, porque tendo participado do seu mistério redentor, estamos prontos, preparados para o encontro definitivo com o Pai. É como se disséssemos: pode vir, Senhor Jesus, porque eu estou pronto, preparado, com saudade do céu. Pode vir me buscar, estou esperando, pois anseio pela vida eterna. É isto que suplicamos em cada Missa que participamos. Cabe porém, a pergunta: vivenciamos esta certeza, no dia a dia da nossa vida?

            Após a consagração, fazemos o grande ofertório, oferecendo ao Pai o “Corpo e o Sangue de Cristo, sacrifício do vosso agrado e salvação do mundo inteiro” (OE IV). Em seguida, invocamos o Espírito Santo para a comunhão: “... concedei aos que vamos participar do mesmo pão e do mesmo cálice que, reunidos pelo Espírito Santo num só corpo, nos tornemos em Cristo um sacrifício vivo para o louvor da vossa glória” (OE IV). Expressamos o desejo da plena comunhão com Cristo e com o seu Corpo Místico que é a Igreja. A glória do Pai consiste em que, imitando seu Filho Jesus Cristo, principalmente na capacidade de amar, nos tornemos com Ele um sacrifício vivo: “Exorto-vos, portanto, irmãos, a que ofereçais vossos corpos como hóstia viva, santa e agradável a Deus: este é o vosso culto espiritual” (Rm 12,1).

Seguem as intercessões por toda a Igreja.

Quando falamos da Igreja, devemos entendê-la na sua totalidade, abrangendo as suas três dimensões: Peregrina, Padecente e Triunfante. Primeiro, intercedemos pela Igreja Peregrina, presente no mundo inteiro, que deve  crescer na caridade e permanecer e caminhar unida: “... com o Santo Padre, o Papa, com o Bispo Diocesano, e todos os ministros do vosso povo” (OE II). Em seguida, intercedemos pela Igreja Padecente, ou seja, por aqueles que morreram e estão no estágio de purificação para entrar na plenitude da vida com Deus na eternidade. Na OE II, rezamos: “Lembrai-vos também dos nossos irmãos e irmãs que morreram na esperança da ressurreição e de todos os que partiram desta vida: acolhei-os junto a vós na luz da vossa face”. Além dos irmãos e irmãs na fé, rezamos também por todos os que partiram. Incluem-se aqui, todos: cristãos de outras denominações, membros de outras religiões, mesmo as pagãs. Lembremo-nos de que Jesus deu a sua vida para salvar e redimir a humanidade. Legou à sua Igreja o dever de continuar a sua ação redentora, principalmente na celebração da sua memória, no Sacrifício da Missa. A ação da Igreja, ultrapassa os seus limites, para atingir a todos os homens e mulheres, a fim de que todos cheguem à salvação. A ação Eucarística não beneficia somente aquela comunidade que celebra, mas beneficia toda a humanidade, porque é a ação redentora de Jesus continuada na Igreja, pela salvação do mundo.

            Não é justo deixar os fiéis na ignorância, achando que seus parentes falecidos só recebem aquela Missa que mandam celebrar. É preciso conscientizar os fiéis de que as milhares de Missas que se celebram no mundo inteiro,  beneficiam a todos, vivos e mortos. Então, desde o momento em que a pessoa morre, ela já está sendo lembrada em todas as Missas. Já usufruía  em vida e continua usufruindo depois, enquanto estiver no estágio de purificação até entrar na posse da plena vida, quando então não mais precisará da ação redentora de Jesus, mas celebrará com Ele a eterna Liturgia.

            É justo que nas Missas dominicais se lembre dos irmãos e irmãs falecidos durante a semana e que a comunidade se solidarize com as famílias enlutadas. Aos que já morreram a algum tempo, basta que sejam lembrados por seus familiares e amigos, no momento da intercessão pelos mortos, cuidando, o presidente da celebração, em propor um instante de silêncio, para esse fim.

            Manifestamos, em seguida, o desejo de participar da vida eterna, entrando na plena comunhão com a Igreja Triunfante, isto é, com a Virgem Maria, com os Apóstolos e Mártires e todos os que já estão gozando da plenitude da vida com Deus, na eternidade, participando da eterna Liturgia, louvando e glorificando a Deus, por Jesus Cristo. Na verdade, expressamos mais uma vez o anseio do nosso coração pela vinda do Senhor, por estarmos preparados através da ação redentora de Jesus, da qual participamos revivendo em nós o seu mistério pascal e,  portanto, prontos para entrarmos na posse da plena vida.

            Encerra-se a Oração Eucarística, elevando-se o Corpo e o Sangue de Cristo, por quem, com quem e em quem sobe ao Pai todo o louvor que a humanidade lhe rende através da Igreja, culminando com o grande Amém, que é a ratificação, aceitação, consentimento da Assembléia de tudo o que foi proclamado na Oração Eucarística. 

 

Ritos da Comunhão

            Tendo participado do mistério pascal de Cristo (morrendo para o pecado e renascendo com Ele para a vida nova), estamos aptos para entrar em comunhão com Cristo e com os irmãos e irmãs, podendo rezar sem nenhum temor, a oração da fraternidade (Pai-nosso), que o Senhor nos ensinou, porque nosso coração está livre de todas as amarras do orgulho, do egoísmo, da vaidade, da auto-suficiência... e então condicionamos o perdão de Deus, à nossa capacidade de perdoar: “Perdoai-nos as nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos ofendeu”. Se morremos para o homem velho e assumimos a vida nova que o sacrifício de Jesus nos conquistou, necessariamente devemos estar reconciliados com todos. E se tivermos alguma coisa contra alguém, ou se alguém tiver alguma coisa contra nós, assim que sairmos da Igreja, iremos nos reconciliar com ele. Se não houver esta predisposição, não houve conversão.

            Outro gesto de fraternidade é o “dar” a Paz. Pedimos a Paz a Cristo, Senhor da Paz, e a desejamos aos irmãos e irmãs, como gesto de reconciliação fraterna. Lembremos o que disse Jesus: “Deixa a tua oferta ali diante do altar e vai primeiro reconciliar-te com o teu irmão” (Mt 5,24). Já assumimos o compromisso da reconciliação com o Pai-nosso e o reafirmamos  ao pedir e desejar a Paz. Este gesto implica em um compromisso de trabalhar pela paz e pela unidade, no dia a dia da nossa vida, na família, no ambiente de trabalho, na comunidade de fé e em toda a sociedade.

            Toda a celebração, até aqui, nos preparou para o grande momento em que entramos em comunhão com Cristo e com seu Corpo Místico que é a Igreja, tomando e comendo o Corpo de Cristo na Eucaristia: “O cálice de bênção que abençoamos, não é comunhão com o sangue de Cristo? O pão que partimos, não é comunhão com o corpo de Cristo? Já que há um só pão, nós, embora muitos, somos um só corpo, visto que todos participamos desse único pão” (1Cor 10,16-17).  Também neste momento, como na Consagração, deveria acontecer os milagres, porque somos assimilados no Corpo de Cristo e O assimilamos em nós: “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele” (Jo 6,56). O divino se humaniza para divinizar a nossa humanidade: “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna e eu o ressuscitarei no último dia” (Jo 6,54). Não seria demais dizer como São Paulo: “Eu vivo, mas já não sou eu que vivo, pois é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20).

            Faz-se necessário um sério exame de si mesmo: “Por conseguinte que cada um examine a si mesmo antes de comer desse pão e beber desse cálice, pois aquele que come e bebe sem discernir o Corpo, come e bebe a própria condenação” (1Cor 11, 28-29). Discernir significa ter consciência plena de que estamos comungando o  Cristo vivo  e real na Eucaristia, e que estamos entrando em comunhão com Ele e com a Igreja da qual somos membros. Nos comprometemos, portanto, em promover a fraternidade e a unidade que experimentamos e vivenciamos na Eucaristia. Não assumindo este compromisso,  pecamos contra o Corpo e o Sangue do Senhor.

            Vejamos que o problema sério está em discernir ou não o Corpo do Senhor. Não se trata portanto, de estado de pecado: “Eis porque todo aquele que comer do pão e beber do cálice do senhor indignamente, será réu do Corpo e do Sangue do Senhor” (1Cor 11,27).  Indignamente, parece ser a incapacidade de compreensão do mistério celebrado, ou seja, compreender que memorizamos a Ceia original e a Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus, no presente (na celebração da comunidade), que nos remete para o futuro, isto é, na expectativa da Parusia (vinda de Cristo -  momento do nosso encontro definitivo com o Pai). O que condena é não se comprometer com a Eucaristia. Celebrar e comungar, como se nada houvesse acontecido de novo em nossa vida. Voltar para casa, e continuar ignorando os irmãos e irmãs, principalmente os necessitados. Ignorar as grandes diferenças e os grandes problemas sociais. Enfim, continuar fechado em si mesmo, não se sentindo parte integrante do corpo (Igreja), não assumindo a corresponsabilidade na edificação do Reino de Deus.

            São Paulo relaciona os graves problemas da comunidade: “Eis porque há entre vós tantos débeis e enfermos e muitos morreram” (1Cor 11,30), como consequência da falta de fé e de compromisso e pela falta de respeito para com o real sentido da Ceia do Senhor, que nos congrega  como membros do corpo, que é a Igreja.

            Cristo oferece o seu Corpo e o seu Sangue a todos: “Tomai, todos, e comei - tomai, todos e bebei”. Infelizmente, criou-se na Igreja a mentalidade de que a Eucaristia é para os justos, para os puros e santos. No entanto, Jesus diz: “Aquele que tem saúde não precisa de médico, mas sim os doentes... De fato, eu não vim para chamar os justos, mas os pecadores” (Mt 9,12-13) e, ainda: “Vinde a mim todos vós que estais cansados e fatigados sob o peso dos vossos fardos, e eu vos darei descanso. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração, e vós encontrareis descanso. Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve”  (Mt 11,28-30).

            Antes da comunhão, o presidente da celebração apresenta o Corpo de Cristo à assembléia dizendo: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo”, e a assembléia responde: “Senhor, eu no sou digno(a) de que entreis em minha morada, mas dizei uma palavra e serei salvo(a)”. Esta aclamação expressa  o reconhecimento da nossa indignidade e ao mesmo tempo, a confiança na ação de Jesus que nos cura, nos liberta e nos salva. A única razão pela qual celebramos o mistério redentor de Jesus é para a nossa salvação e a salvação do mundo. Implica, pois, celebrarmos coerentemente, isto é, entrarmos no processo pascal com Jesus, morrendo com Ele para o pecado e ressusrgindo com Ele para a vida nova. Este processo pascal é contínuo. Por isso, se celebramos todos os dias, todos os dias devemos estar dispostos a passar da morte para a vida. Sem esta predisposição, não tem sentido celebrar a Eucaristia. E se há esta predisposição, e se realmente entramos na dinâmica  libertadora da Missa, abrindo o nosso coração para a experiência do amor misericordioso de Deus, no ato penitencial, escutando com agrado e assimilando a Palavra e nos deixando converter por ela, mergulhando de cabeça no mistério redentor, nos deixando crucificar com Cristo para o pecado e banhar no seu Sangue regenerador, renascendo para a vida nova, não estaremos aptos para Comungar?  Não é a Eucaristia, sustento e remédio para o nosso corpo e  para  a nossa alma?: “Porque o pão de Deus é o pão que desce do céu e dá vida ao mundo” (Jo 6,31).

            É ridículo, antes da comunhão, alguém dizer à assembléia: “Só se aproxime para comungar, quem estiver preparado”, porque isto manifesta a incompetência da equipe de celebração que não conseguiu levar a assembléia a entrar na dinâmica da Missa, a dar os passos concretos que deve dar, até chegar à comunhão plena com Cristo e com os irmãos e  irmãs. Enquanto Cristo se dá  a todos, nós tentamos limitar o acesso a Ele, aos que julgamos puros e dignos: “Em verdade, em verdade vos digo: se não comerdes a carne do Filho do homem e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós” (Jo 6,53).  Por causa desta mentalidade,  e por falta de catequese sobre o real sentido da Missa, muitos deixam de comungar, perdendo a oportunidade de usufruir da plenitude dos bens de Deus que é a Eucaristia: “Eu sou o pão da vida. Quem vem a mim, nunca mais terá fome e o que crê em mim nunca mais terá sede” (Jo 6,35).

            Com a oração pós-comunhão, pedimos ao Pai que, auxiliados por sua graça, possamos produzir os frutos da Salvação que o Sacrifício de Cristo nos mereceu, e assim, encerramos os ritos da comunhão.

 

Rito final -  Envio - “Ide em Missão”

 Iniciamos a Liturgia da Missa em nome da  Santíssima Trindade e a encerramos em nome e com a bênção da Santíssima Trindade. Encerramos o Rito, mas a Liturgia da Missa continua na nossa ação quotidiana, comprometidos a viver, agora com mais força, dinamismo e entusiasmo, porque fortalecidos pela Eucaristia, a tudo fazer em nome do Senhor Jesus, dando graças a Deus Pai, por Ele (cf. Fl 3,17). E assim, vamos em paz, acompanhados pelo Senhor: “E eis que estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos” (Mt 28,20), glorificando a Deus, testemunhando aos outros, com a vida e com o anúncio, a experiência libertadora do amor de Jesus que continua se sacrificando para a nossa salvação: “A comunidade que, na liturgia, celebra alegremente a Páscoa do Senhor, tem o compromisso de dar testemunho, de catequizar, educar e comunicar a Boa Nova por todos os meios a seu alcance” (DP 894). Assim, a Missa se torna Missão, porque, levaremos estampada no rosto, a alegria da salvação.

Moisés desceu do Monte Sinai, com o rosto resplandecente: “Ora, se o ministério da morte, gravado com letras sobre a pedra, foi tão assinalado pela glória que os israelitas não podiam fixar os olhos no semblante de Moisés por causa do fulgor que nele havia - fulgor, aliás, passageiro -, como não será ainda mais glorioso o ministério do Espírito?” (2Cor 3,7-8). Na verdade, a nossa experiência foi mais intensa do que a de Moisés, porque ele não assimilou em si a Deus, como nós assimilamos o Corpo de Cristo e nos deixamos assimilar por Ele. Subimos ao Monte Calvário, passando, finalmente, pelo Monte Tabor. E se, descendo do Monte Tabor, em nosso rosto não resplandece raios de luz, deveria resplandecer a alegria, de tal forma que, os que nos encontrassem no caminho de volta para casa, perguntassem: por que você está radiante de alegria? Responderíamos: porque celebrei o mistério da minha salvação e comunguei o Corpo do meu Senhor e estou identificado com Ele. É este testemunho da alegria: “Alegrai-vos sempre no Senhor! Repito: alegrai-vos!” (Fl 4,4), por termos a oportunidade de em cada Missa, revivermos e experimentarmos em nós a ação redentora de Jesus, que nos salva, cura e liberta, que estamos devendo ao mundo.

A Missa é a maior prova do amor de Jesus por nós, amor sem limites: “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos” (Jo 15,13). Amor loucamente apaixonado: “...tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim” (Jo 13,1). A Eucaristia é a loucura do amor de Jesus por nós. Amor de benevolência ou ágape, que se dá e se consome totalmente para a  nossa salvação e a salvação de toda a humanidade, sem nenhum mérito da nossa parte: “Ninguém tira a minha vida; eu a dou livremente. Tenho o poder de dar a vida e tenho o poder de retomá-la” (Jo 10,18). “Assim como o Pai me amou também eu vos amei. Permanecei no meu amor” (Jo15,9).  

            Na verdade, celebrando a Liturgia Eucarística, antegozamos a Liturgia Celeste. Experimentamos aqui e agora, no hoje da nossa vida, aquela alegria, felicidade, e glória que nos estão reservadas na eternidade: “Quando Cristo que é vossa vida se manifestar, então vós também com Ele sereis manifestados em glória” (Cl 3,4). Por isso, sem nenhum medo e sem nenhum temor aclamamos: “Amém! Vem, Senhor Jesus!” (Ap 22,20).

 

Mons. Wilson Galiani

Pároco na Paróquia Santa Joaquina de Vedruna

           

                                                                

 

 

 

 


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