ESPIRITUALIDADE FAMILIAR
No VII Encontro Mundial sobre a família, Milão (Bento XVI): Não é só a Igreja que é chamada a ser imagem do Deus Uno em Três Pessoas, mas também a família fundada no matrimónio entre o homem e a mulher. No princípio, de fato, «Deus criou o ser humano à sua imagem, criou-o à imagem de Deus: Ele os criou homem e mulher. Abençoando-os, Deus disse-lhes: “Crescei e multiplicai-vos”» (Gn 1,27-28). Deus criou o ser humano, homem e mulher, com igual dignidade, mas também com características próprias e complementares, para que os dois fossem dom um para o outro, se valorizassem reciprocamente e realizassem uma comunidade de amor e de vida. O amor é o que faz da pessoa humana a autêntica imagem da Trindade, imagem de Deus.
Caros esposos, na vivência do matrimônio, não dais qualquer coisa ou alguma atividade, mas a vida inteira. E o vosso amor é fecundo, antes de mais nada, para vós mesmos, porque desejais e realizais o bem um do outro, experimentando a alegria do receber e do dar. Depois é fecundo na procriação generosa e responsável dos filhos, na solicitude carinhosa por eles e na educação cuidadosa e sábia. Finalmente é fecundo para a sociedade, porque a vida familiar é a primeira e insubstituível escola das virtudes sociais, tais como o respeito pelas pessoas, a gratuidade, a confiança, a responsabilidade, a solidariedade, a cooperação.
Caros pais, cuidai dos vossos filhos e, num mundo dominado pela técnica, transmiti-lhes com serenidade e confiança as razões para viver, a força da fé, ajudando-os a descobrir a própria vocação e servindo-lhes de apoio na fragilidade. Mas também vós, filhos, sabei manter sempre uma relação de profundo afeto e solícito cuidado com os vossos pais, e as relações entre irmãos e irmãs sejam também oportunidade para crescer no amor.
Este ideal pode parecer demasiado alto. Por isso mesmo, os casais devem beber constantemente nas fontes da graça do sacramento do matrimônio e da participação na Eucaristia dominical. Isso implica o «dever de sentar-se», isto é, o compromisso de manter periodicamente um tempo de diálogo pessoal entre esposo e esposa. Não se deixar vencer pelo individualismo, pelo ativismo, a pressa e a distração. O diálogo sincero e constante entre os esposos é essencial para evitar que surjam, cresçam e endureçam incompreensões. Por isso, cultivem este valioso hábito de sentar-se um ao lado do outro para falarem e se ouvirem, para compreenderem um ao outro sempre de novo no meio das surpresas e dificuldades do longo caminho.
“Eu sou a videira; vós, os ramos. Quem permanecer em mim e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer.” (Jo 15,5). Sem oração não há relacionamento com Deus. A oração é a forma de nosso interagir com Ele. Quando tratamos de espiritualidade familiar, queremos dizer o caminho que a família como Igreja Doméstica se utiliza para o seu relacionamento com o Senhor. Por isso, não podemos dizer que há uma espiritualidade, um seguimento de Cristo na família se não há vida de oração pessoal, conjugal e familiar. Vejamos o que nos fala a respeito o Catecismo da Igreja Católica: “A família cristã é o primeiro lugar da educação para a oração. Fundada sobre o sacramento do matrimônio, ela é ‘A Igreja doméstica’, onde os filhos de Deus aprendem a orar e a perseverar na oração.” (CIC 2685).
Rezar juntos. Isto é fundamental! Não vale mais a desculpa: não tenho tempo, minha vida é muito corrida! Oração em família é questão vital do relacionamento com Deus e, inclusive para a harmonia dos relacionamentos entre os membros da própria família. Na oração somos curados; pela oração aprendemos a perdoar; pela oração nos tornamos mais amigos de Deus e uns dos outros; pela oração nos entregamos e amamos a Deus e nos tornamos capazes de amar os irmãos e, pela oração os filhos são educados e formados. Veja como a definiu Bento XVI: “A oração não é algo acessório ou opcional, mas uma questão de vida ou morte. Somente quem reza, isto é, quem se confia a Deus com amor filial, pode entrar na vida eterna, que é o próprio Deus.” (Bento XVI – Quaresma de 2007).
Assim, os pais, são os primeiros responsáveis pela saúde espiritual da família, devem tomar a oração como algo que faz parte do cotidiano da família e com ela encontrar forças para lutar contra tudo aquilo que vem para nos afastar da própria oração e consequentemente da vida em Deus.
Precisamos lutar contra o modelo de família que o mundo e a sociedade querem impor para nós. Nós não a aceitamos, somos católicos. Queremos viver o modelo de família que está dentro do projeto de Deus e que Ele mesmo deixou expresso de maneira magnífica através de sua própria família, a Sagrada Família de Nazaré.
Uma família que não da espaço para preguiça, para a indiferença ou ao comodismo em cumprir a vontade de Deus e que busca ter comunhão com Ele através de uma intensa vida de oração. “A oração e a vida cômoda não combinam.” (Sta Tereza D’Ávila).
Por onde começar? Através da oração à mesa, por exemplo. A mesa/refeição é lugar sagrado. Jesus quando instituiu a Eucaristia, não a instituiu em um templo ou sobre um altar e sim sobre uma mesa de refeição e durante uma refeição, querendo também assim, deixar claro o caráter sagrado de que se reveste, principalmente, quando uma família se reúne em torno da mesa. Infelizmente, isso se perdeu na maioria das famílias, notadamente e dolorosamente, nas famílias que se dizem cristãs! Até mesmo em algumas famílias a mesa foi extinta! Os filhos comem à frente da TV ou do computador. Os pais, dando um péssimo exemplo, fazem o mesmo!
Precisamos fazer um grande resgate desses valores perdidos. Quantas possibilidades de diálogo, amizade, partilha, perdão, crescimento, conhecimento pode-se fazer à volta da mesa? Mesmo que, hoje em dia, com toda a correria, afazeres, trabalho, estudo, horários diferentes, cada família, dentro de seu próprio ritmo, poderia, ao menos, eleger uma das refeições do dia ou algumas durante a semana para viver intensamente estes momentos que são apropriados para agradecer em família o pão nosso de cada dia! Como é importantíssimo, dentro desse processo de educação familiar para a oração, a oração do casal e dos pais com os filhos.
Disse João Paulo II a respeito da importância da oração em família: “A oração famíliar tem as suas características. É uma oração feita em comum. Marido e mulher juntos, pais e filhos juntos. A comunhão na oração é, ao mesmo tempo, fruto e exigência daquela comunhão que é dada pelos sacramentos do batismo e do matrimônio.” (Familiaris Consortio, 59). A oração reforça a estabilidade e a solidez espiritual da família, ajudando a fazer com que esta participe da ‘fortaleza’ de Deus. Fica muito claro e evidente que toda a harmonia e felicidade plena – que só se consegue em Deus depende da qualidade de vida de oração entre esposo e esposa e entre pais e filhos. Como é verdade e, se aplica muito bem aqui, aquele antigo ditado que diz: “Família que reza unida permanece unida!”
Para nós, cristãos, o Domingo é dia de festa, dia do Senhor, Páscoa da semana. É o dia da Igreja, assembleia convocada pelo Senhor ao redor da mesa da Palavra e do Sacrifício Eucarístico, para nos alimentar d’Ele, entrar no seu amor e viver do seu amor. É o dia do homem e dos seus valores: convivência, amizade, solidariedade, cultura, contato com a natureza, jogo, desporto. É o dia da família, em que se há de viver, juntos, o sentido da festa, do encontro, da partilha, acima de tudo com a participação na Santa Missa.
Mesmo nos ritmos acelerados do nosso tempo, não podemos perder o sentido do dia do Senhor! O domingo é como o oásis onde parar para saborear a alegria do encontro e saciar a nossa sede de Deus. Família, trabalho, festa: três dons de Deus, três dimensões da nossa vida que se devem encontrar num equilíbrio harmonioso. Harmonizar os horários do trabalho e as exigências da família, a profissão e a paternidade e maternidade, o trabalho e a festa são importantes para construir sociedades com um rosto humano.
É preciso privilegiar sempre a primasia do ser sobre a do ter: a primeira constrói, a segunda acaba por destruir. É preciso educar-se para crer, em primeiro lugar na família, no amor autêntico: o amor que vem de Deus e nos une a Ele e, por isso mesmo, «nos transforma em um Nós, que supera as nossas divisões e nos faz ser um só, até que, no fim, Deus seja “tudo em todos”. Amem.
Padre Wilson Galiani
Pároco da Paróquia Santa Joaquina de Vedruna - Maringá-Pr,